Quando eu medito, eu me dito
O excesso de atividades da vida moderna, o jeito peculiar de cada um de nós e a estranha sensação de estamos vivendo em uma fria selva de asfalto e cimento, às vezes provocam palpitações desordenas, respirações descompassadas, visão turva e uma leve (ou não tão leve) incoerência mental.
Os enigmáticos e imprevisíveis episódios da vida parecem nos metamorfosear para um protótipo esfíngico, parte animal selvagem, parte humano, parte instinto, parte razão.
Perceber todo esse turbilhão de sentimentos e reações químicas no nosso corpo, a cada sensação, seja ela racional ou selvagem, é só o primeiro passo para entender que está tudo aí dentro. E isso nos faz mais humanos.
O verbo domesticar vem da raiz latina “domus”, que significa casa. O “dominus” era o pronome de tratamento destinado ao mestre, ao senhor, ao dono da casa. É de tal palavra que vem o conceito “dono/dona” e, até mesmo o termo “domínio”.
Eu medito para viver do ser racional ao animal selvagem e para domesticá-los, no sentido de me apropriar de quem eu, a cada dia, descubro um pouco mais que sou.
Eu medito para me assenhorar de minha própria casa e isso me ajuda a adquirir (ainda que seja só um pouco de) domínio nesse espaço que talvez eu possa chamar de “eu”.
Meditar é ditar a minha próxima ação, minha próxima reflexão, minha iminente decisão.
É escolher não sucumbir ao controle de uma versão de mim mesma que eu desconheça ou cuja reação eu possa vir a reprovar.
Meditar é me ditar, quanto ao ser humano que eu quero ser.
É por isso que quando eu medito, eu me dito.