O que há entre as palavras?
Para mim, a nossa relação de humanidade com as palavras é como uma cena, que é corporificada em uma fotografia.
De repente, você vê algo e é tudo isso, você vê.
No próximo momento, aquela cena é enquadrada e se torna uma foto.
Uma foto, por sua vez, tem um espaço limitado e não é capaz de capturar toda a paisagem.
É por isso que cada um escolhe o enquadramento que preferir, aquele que a própria subjetividade achar melhor.
O quadro escolhido se torna foto, se materializa.
E toda a perspectiva, que não ficou capturada naquela imagem, é lançada no mar do esquecimento, das cenas que não se tornaram em foto, mas poderiam ter sido.
Toda palavra captura um conceito e enquadra um significado. E, ao fazê-lo, simplesmente oculta todas as outras possibilidades que aquela palavra poderia ter sido.
Cada sujeito imprime na palavra o que dá conta de si.
É por isso que a palavra é como as duas faces de uma mesma moeda, pois, o que é dito é como a face levada à luz, deixando às sombras tudo que aquela palavra eclipsou, o significado obliterado.
Entre as palavras há o oculto e o revelado, do Outro que me faz sujeito ao Sujeito que me faz outro.
Para mim, em alguns dias nós capturamos a palavra e, em outros, a palavra nos captura. E talvez seja isso que exista entre as palavras.